Tenho um fraco por histórias em que turistas se dão mal. Em livro ou em filme, nunca me nego. De onde virá esta paixão? Parte pode ser da educação de esquerda da Faculdade: tudo o que me parecer um instinto burguês merece uma retribuição que, além de apenas frustrar as expectativas, puna mesmo as vontades dos privilegiados. Outra parte da fraco por turistas se darem mal pode vir da educação bíblica, em que se aprende logo que nesta vida o paraíso não se acha, perde-se. Sinto-me sempre disponível para histórias assim.
Em livro recordo “O Senhor das Moscas” do William Golding. Tecnicamente não são turistas mas jovenzinhos britânicos que, perdidos numa maravilhosa ilha isolada, encontram o oposto do Éden. Curiosamente, o livro rendeu dois filmes que são bastante eficazes também. Outros filmes que recordo são o terrível “Hostel” do Eli Roth (realisticamente colocando americanos que acabam torturados no leste europeu), “Turistas” de 2006 (novamente americanos dão-se mal mas agora no Brasil), ou, ecologicamente mais sugestivo, “Long Weekend” de 1978 (em que um casal australiano carpe as austeridades da Mãe Natureza num fim-de-semana de campismo). A lista poderia continuar.
Mas nada bate uma história verdadeira. E, infelizmente, essa história verdadeira aconteceu há pouco tempo com a jovem brasileira que caiu no vulcão indonésio. Juliana Marins ficou três dias esperando pelo resgate que acabou por não acontecer. Soa trágico. Soa quase crístico. A turista que não se deu bem deixou o mundo inteiro a sentir-se mal.
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2025-07-05T23:33:15Z