O Minho é uma das regiões mais ricas em casas nobres e solares portugueses. No distrito de Viana do Castelo, a oito quilómetros da vila de Monção, encontramos um dos expoentes máximos desta arquitectura solarenga, o Palácio da Brejoeira, uma das fachadas palacianas mais deslumbrantes de Portugal.
A sua construção terá começado na última década do século XVIII a mando de Luís Pereira Velho de Moscoso, fidalgo da Casa Real, que para isso requereu autorização ao então príncipe-regente Dom João, futuro Dom João VI, para a construção da terceira torre do palácio. Noutros palácios e solares do Minho, só costumam existir duas torres. A terceira e a quarta dependiam da prerrogativa real.
A monumentalidade deste palácio prolongou as obras até à década de 1830, sendo então proprietário Simão Pereira Velho de Moscoso, filho do proprietário anterior. Simão de Moscoso era parente, por parte materna, da família Caldas que mandou levantar em Lisboa o palácio do mesmo nome. Depois da sua morte, sem descendência, estes parentes acabaram por herdar a Quinta e Palácio da Brejoeira.
Estando a família Caldas fixada sobretudo em Lisboa, a Brejoeira conheceu um período de certa negligência até ser arrematada em hasta pública por Pedro Maria da Fonseca Araújo, ao tempo presidente da Associação Comercial do Porto. Datam desta altura importantes obras no palácio que lhe conferiram um toque de modernidade.
A história actual da Brejoeira começou em 1937 quando foi de novo vendida, desta vez a Francisco de Oliveira Paes, um capitalista de Lisboa, que a ofereceu à sua única filha, Maria Hermínia. Em 1976, mudou de mãos pela última vez, comprado por Feliciano dos Anjos Pereira. Embora não se saiba o nome do arquitecto original do Palácio da Brejoeira, a hipótese mais consensual atribui a traça a Carlos Amarante. É um edifício de cariz neoclássico que guarda contudo algumas marcas barrocas ou barroquizantes.
Na Europa do século XVIII, as modas e os gostos atravessavam o continente de forma lenta. Lembremos que o desenho original do Palácio Real da Ajuda, da mesma época do Palácio da Brejoeira, era também de inspiração barroca. Há mesmo quem sugira José da Costa e Silva, autor da Ajuda, como o autor da Brejoeira, apontando semelhanças nas fachadas dos dois palácios.
Tal como o Palácio da Ajuda, também o da Brejoeira não viu completado o projecto original, que imaginava quatro fachadas e um pátio fechado com torres em cada um dos quatro cantos.
Hoje, desenha-se numa planta em L formada por um corpo central de dois pisos, piso térreo e piso nobre, duas torres de três pisos cada, uma de cada lado, e um corpo perpendicular ao corpo central, que copia o formato deste e é arrematado também com uma torre de três pisos. A fachada principal tem o pano central em cantaria com três janelas de sacada no andar nobre e coroado com a pedra d’armas usada por este ramo da família Moscoso.
A fachada lateral é já menos decorada, sendo que ao corpo lateral correspondiam os quartos de dormir e salas de uso privado da família. A Brejoeira mostrava assim, já no início da sua construção, uma modernidade, separando por completo as salas de aparato, com janelas rasgadas na fachada principal, e a área de uso familiar no corpo lateral da casa.
Entra-se no Palácio da Brejoeira por um vestíbulo de grandes dimensões com escadaria monumental de granito que se divide em dois num meio piso. Esta escadaria tem as paredes revestidas de painéis de azulejos azuis e brancos que, embora lembre a transição do rococó para o neoclássico no final do século XVIII, é na verdade da autoria de Jorge Pinto, no início do século XX. Decoram ainda a escadaria elegantes lanternas em estilo arte nova.
Por ela acede-se ao andar nobre do corpo principal e às salas de aparato que se seguem. Passeando por estas salas encontra-se a Sala do Rei, com paredes pintadas com inspiração neoclássica num trompe l’oeil a imitar tecido. O tecto octogonal decorado em estuque e com um cúpula falsa ao centro lembra o gosto do início do século XIX, em que as salas ovais se tornaram uma novidade popular. A sala tem este nome por apresentar ao centro, coberto por dossel, um quadro de Dom João VI. Também no andar nobre está a Sala de Jantar, outra novidade na Europa do final de oitocentos. O seu fantástico tecto em boiserie é já em gosto revivalista, típico da segunda metade do século XIX. Embora o corpo principal tenha dois quartos de dormir, o Quarto Real e o Quarto de Hóspedes, estes funcionam mais como salas de aparato.
Depois de 1901, o palácio foi comprado por Fonseca Araújo e conheceu obras de melhoramento da autoria de um dos grandes arquitectos do início do século, Ventura Terra. Este arquitecto desenhou o Jardim de Inverno e uma das singularidades do Palácio da Brejoeira, o seu teatro privado.
Seguindo a arquitectura do ferro e do vidro do final de oitocentos, o jardim apresenta uma imensa clarabóia que lhe serve de tecto em estrutura de ferro e com vidro colorido azul e amarelo.
Por seu lado, o pequeno e elegante teatro marca a importância da cultura no bom gosto do período final da monarquia em Portugal. Com um palco ladeado de colunas de inspiração romana e paredes decoradas a estuque, leva a sonhar com as elegantes récitas e pequenas representações que os seus donos ofereciam aos convidados.
Um dos momentos históricos mais interessantes deste palácio deu-se já no século XX. Em 1950, Francisco Franco e António de Oliveira Salazar tiveram uma reunião secreta na Brejoeira.
O palácio mantém-se hoje como uma casa viva. Em 1999, integrou a sociedade anónima Palácio da Brejoeira - Viticultores, ainda hoje nas mãos dos herdeiros de Hermínia Paes e de Feliciano Anjos Pereira. A casa está aberta ao público para visitas desde 2010 e é na Brejoeira que se produz o famoso vinho Alvarinho.
Artigo publicado originalmente na Edição Especial Viagens nº 50 – Palácios e Casas Senhoriais.
2024-11-29T15:09:51Z