NãO é NA LUA, é NA TERRA

Mesmo de frente para o mar, no trajecto Luanda-Cuanza, há um monumento natural que dificilmente não fará abrandar ou mesmo parar o transeunte menos impressionável da Terra. Que o diga Luís Vítor Duarte, professor no Departamento de Ciências da Terra da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, que numa passagem por este lugar "de outro mundo" em viagem de estudo, se rendeu à sua "beleza". Nas suas palavras, a aparência mágica deste frágil sistema geológico deve-se "à acção combinada dos fenómenos de erosão atmosférica sobre litologias que se diferenciam por critérios de composição mineralógica e granulométrica". O nome desta grande escultura, esse, não é um mero artifício poético: afinal, este conjunto de falésias remete-nos para uma paisagem lunar.

Num artigo publicado na Revista de Ciência Elementar, o investigador português, destaca, como imagem de marca deste sítio, "o contraste entre duas grandes unidades siliciclásticas de cor branca e avermelhada [ferruginosa]" e "o estilo de empilhamento das unidades esbranquiçadas dominadas por estruturas cruzadas, uma sucessão que conta a evolução neogénica e quaternária do paleo-delta do [rio] Cuanza". 

O Miradouro da Lua serviu de título e cenário à primeira co-produção cinematográfica luso-angolana, assinada pelo realizador português Jorge António em 1993. Não será por acaso que, no fim do filme, o protagonista, um lisboeta de gema de visita a Angola, comunica em alto e bom som que decidiu ficar no país da palanca-negra-gigante precisamente quando visita este lugar.

Infelizmente, a acentuada erosão, a falta de programas de preservação e a pressão turística de que é alvo estão a contribuir para que este miradouro deixe definitivamente de ser visto.

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