No Verão a maioria das pessoas aflui às praias fluviais e observa os banhistas. A escolha do local tem causas filosóficas antigas. Foi um filósofo da antiguidade quem alvitrou pela primeira vez que ninguém toma banho duas vezes no mesmo rio. A tese parece falsa, ou pelo menos muito obscura. Não é de excluir que o autor estivesse a emitir uma opinião desfavorável acerca das praias fluviais, e a observar que nenhuma pessoa razoável tende a voltar duas vezes ao mesmo rio. Mas muitos de nós já fizeram juras dessas sem ter ambições filosóficas.
O antigo filósofo não tinha o costume de ficar para o período das perguntas; e ainda por cima poderá não ter dito nada daquilo que lhe é atribuído: o que nos chegou dele foram as declarações de várias outras pessoas, que essas sim garantiram que ele tinha dito certas coisas. Naquilo que lhe é atribuído (não mais de dez ou onze páginas bem medidas) há não obstante uma preocupação repetida com questões de banhos (observa em particular que os porcos gostam de tomar banho na lama, e que tudo é ranho).
Quando uma tese parece falsa os anjos melhores da nossa natureza tentam-nos a imaginar em que circunstâncias poderia não parecer tão falsa. É caso que a água do rio em que tomaremos banho no próximo Verão não será composta pelas moléculas que por lá andavam no Verão passado. Aquilo a que chamamos tomar banho no rio é realmente tomar banho num certo estado desse rio; no próximo Verão o estado deverá ser outro (pode ser por isso que o filósofo tenha insistido em rios, por oposição a lagos ou banheiras, onde entram menos moléculas frescas).
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2025-02-02T00:25:20Z