"VOOS DIRETOS NA MADEIRA IMPULSIONAM COMPRA DE CASAS POR ESTRANGEIROS"

A região da Madeira é uma verdadeira pérola do Atlântico, que tem atraído cada vez mais estrangeiros e nómadas digitais para visitar e também para viver. São muitos os europeus e os norte-americanos que se têm deixado levar pelos encantos da Madeira e resolvem comprar casa, “porque é a área onde há maior oferta”, revela Eduardo Jesus, Secretário Regional de Economia, Turismo e Cultura, em entrevista ao idealista/news. E avança ainda que “há uma relação direta entre a existência de voos diretos e o número de aquisições de imobiliário feitas por cidadãos desses países”.

Rodeada pelo oceano Atlântico, a Madeira destaca-se pela beleza natural, clima ameno, segurança e qualidade de vida. Todos estes fatores têm prendido os madeirenses às suas raízes (embora o acesso à habitação seja um verdadeiro desafio), mas também têm atraído cada vez mais estrangeiros a viver nas ilhas deste arquipélago português. “Os estrangeiros adquirem sobretudo imobiliário residencial, porque é a área onde há maior oferta”, começa por dizer Eduardo Jesus na entrevista, detalhando que muitas das casas compradas são para habitação própria ou segunda habitação, mas outras destinam-se ao mercado de arrendamento e ao Alojamento Local (AL).

"Quanto à reabilitação de casas e edifícios, devido à pouca oferta, a expressão deste mercado [internacional] é reduzida"

Estas famílias que compram casas na região da Madeira vêm sobretudo da Europa, mas tem-se notado nos “últimos anos um crescimento dos norte-americanos”, resultado das “ligações aéreas diretas existentes entre a Madeira e os EUA”, concretiza o secretário regional com a tutela da Economia. “Há uma relação direta entre a existência de voos diretos e o número de aquisições de imobiliário feitas por cidadãos desses países”, sublinha.

Acontece que estes estrangeiros que pretendem investir em imobiliário na Madeira têm hoje menos incentivos fiscais, dado o fim dos vistos gold e do regime para Residentes Não Habituais (RNH). Mas, afinal, o regime substituto do RNH  - o Incentivo fiscal à investigação científica e inovação - deverá ser alargado e regulamentado, de acordo com a proposta apresentada pelo Governo na semana passada.

Este alargamento do incentivo fiscal deverá ser aplaudido pelo Governo Regional da Madeira, uma vez que “tem vindo a defender a continuidade destes regimes por forma a responder às expectativas dos investidores nacionais e estrangeiros, cujos modelos de negócio assentam em projetos de aquisição de imóveis”, afirma Eduardo Jesus.

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Como tem corrido a atração de investimento estrangeiro para a região da Madeira nos últimos anos? E no arranque de 2024?

A captação de investimento estrangeiro desde 2018, com a criação pelo Governo Regional de uma estrutura de Missão designada de Invest Madeira, tem sido feita de forma mais estruturada e planeada. Assim, as missões empresariais e a participação em feiras setoriais, nomeadamente de imobiliário, tecnologia e de alimentação e bebidas, são planeadas em conjunto com os empresários, que sugerem eventos e países que consideram relevantes.

Em dezembro de 2022, esta estrutura de missão deu lugar a uma Agência de Investimento, que herdou as competências da estrutura de missão, e que serve de ‘front office’ ao investimento estrangeiro que chega à região e também à internacionalização das empresas regionais.

"Há uma relação direta entre a existência de voos diretos e o número de aquisições de imobiliário feitas por cidadãos desses países [estrangeiros]"

Quais são as áreas do imobiliário que despertam mais interesse aos estrangeiros (habitação, retalho, escritórios, hotéis…)? Porquê? Há interesse na reabilitação de casas e edifícios?

Os estrangeiros adquirem sobretudo imobiliário residencial, porque é a área onde há maior oferta. A aquisição destas habitações é vista também como um investimento, fruto da grande valorização do mercado. A utilização destes imóveis nem sempre é para habitação própria ou segunda habitação, mas para colocar no mercado de arrendamento ou no AL. Quanto à reabilitação de casas e edifícios, devido à pouca oferta, a expressão deste mercado é reduzida.

De que países vêm os estrangeiros que procuram a Madeira para viver e investir? O que mais os atraí nas ilhas?

Os países de origem dos compradores são sobretudo europeus, notando-se nos últimos anos um crescimento dos norte-americanos. Este crescimento é o resultado das ligações aéreas diretas existentes entre a Madeira e os EUA. Aliás, há uma relação direta entre a existência de voos diretos e o número de aquisições de imobiliário feitas por cidadãos desses países.

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O fim dos vistos gold e do regime para RNH já tem impacto na atração de capital internacional na região? De que forma? Como veem o fim destes benefícios fiscais? 

A região tem vindo a defender a continuidade destes regimes por forma a responder às expectativas dos investidores nacionais e estrangeiros, cujos modelos de negócio assentam em projetos de aquisição de imóveis.

"O arquipélago [da Madeira] continua a ser muito atrativo para os nómadas digitais"

Como avaliam a chegada de nómadas digitais ao arquipélago da Madeira? Há um antes e depois do visto de nómadas digitais criado em outubro de 2022?

Desde novembro de 2020, que o Governo Regional, através da Startup Madeira, tem desenvolvido as bases do projeto Digital Nomads Madeira Islands. Esta iniciativa destinada a atrair nómadas digitais e trabalhadores remotos para a Madeira e Porto Santo apresenta-se como uma oportunidade de a Região ser pioneira e marcar a diferença num nicho de mercado em grande crescimento. Até à data, este projeto já recebeu cerca de 19 mil inscrições, representando 141 países. De notar que os nómadas digitais normalmente ficam até 90 dias e na maioria das vezes só procuram um visto específico se quiserem permanecer mais do que esse tempo no destino.

Considerando o impacto positivo do projeto-piloto, tivemos a oportunidade de conhecer melhor as necessidades dos nómadas digitais, potenciar ligações entre este nicho e as empresas locais, contactar investidores e facilitar contactos e informações. De realçar que um dos objetivos principais da iniciativa sempre foi potenciar o impacto económico sustentável na Madeira e Porto Santo. Este é o resultado da articulação entre as necessidades dos nómadas digitais/trabalhadores remotos, com as soluções de negócios e empreendedores locais, que já prestam serviços em toda a região, em áreas como AL, hotelaria, 'rent-a-cars', restauração, espaços de trabalho, empresas de apoio contabilístico e financeiro, advogados, entre outras.

Além disso, nos últimos anos foram criadas, em vários locais da região, comunidades especificamente para nómadas digitais e trabalhadores remotos, como é o caso em Machico, pela Remote East Coasters, no Funchal, a associação Madeira Friends International Community Association, no Jardim do Mar, a Nomadico, em Santa Cruz e Santana, a HomeOffice Madeira, e Porto Santo, a Digital Porto Santo Association.

Atualmente, o arquipélago continua a ser muito atrativo para os nómadas digitais, com um saldo muito positivo do número de visitas à região ao longo de todo o ano.

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O acesso à habitação pelos madeirenses é hoje um desafio. A compra e arrendamento de casas por estrangeiros e nómadas digitais tem impactado os preços das casas na região? De que forma? O que é preciso fazer para ter mais casas a preços compatíveis com os salários dos madeirenses?

O preço das habitações na região, tal como em todo o país, tem sofrido aumentos nos últimos anos. Para fazer face às dificuldades sentidas pelos madeirenses neste âmbito, o Governo Regional implementou uma Estratégia Regional de Habitação operacionalizada pela Secretaria Regional de Equipamentos e Infraestruturas. Esta estratégia prevê, ao abrigo do PRR [Plano de Recuperação e Resiliência] e até ao final do corrente ano, a construção de 600 apartamentos a custos controlados e de outros 800 até 2026.

Estão também em vigor vários programas de apoio não só diretamente à população (apoio ao arrendamento, à aquisição, ao pagamento da prestação do crédito bancário e à reabilitação das habitações), como também a promotores privados (incentivos à construção de habitações económicas).

"O investimento direto estrangeiro é muito importante para a Madeira, porque permite capitalizar a economia"

Quais são as vossas expectativas de captação de investimento estrangeiro para a Madeira para o final de 2024? E para os próximos anos?

O investimento direto estrangeiro é muito importante para a Madeira, porque permite capitalizar a economia e ajudar na diversificação da mesma. A região irá prosseguir a sua política de baixa tributação e de desenvolvimento do Centro Internacional de Negócios, bem como de promoção da região ao nível internacional, com a participação em eventos setoriais e com a dinamização de missões empresariais.

2024-07-09T06:31:57Z